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Saudações aos nossos queridos leitores que já acompanhavam a  página TransAdvocate norte-americana, sou Sharon Cardoso, 32  anos, mulher trans, paulistana de nascimento, um arranjo complexo das diversas origens que constituíram minha família e tudo o que  me define interiormente e exteriormente, tive iniciação musical em  um conservatório dirigido pelo meu pai, desde cedo conheço essa  dinâmica das artes voltadas para a música, ilustração e literatura,  muitas vezes exercemos os nossos dons sem conhecer as suas  origens, por que não começamos pela definição de arte? A  etimologia dessa palavra vem do latim (ars) que significa  habilidade ou técnica especifica, podendo ser expressada por  muitas linguagens, sejam essas de ordem estética ou comunicativa.

Sejam vocês, pessoas Trans ou Cis, temos um processo criativo,  expomos nossas emoções e ideais numa tela de pintura; na escrita;  na música; no teatro; no cinema e nas tantas variações de arte que  existem e devem ser respeitadas.

No famigerado mundo das ideias do Platão, tudo deveria funcionar  de forma plena, em algum lugar por aí deveria existir uma Sharon  ideal que estoura a boca do balão com best-sellers e HQs famosos,  mas o que temos para hoje, é isso… Invisibilidade, desprezo e  migalhas pelos nossos trabalhos, esse artigo trará para os meus  ávidos leitores, duas histórias de vida tão distintas, mas que se  confundem quando entra um componente que conecta todas as
pessoas travestis, transexuais e Nbs, o legado da invisibilidade, eu  fiz questão de tecer pequenas entrevistas com duas artistas maravilhosas e batalhadoras, Laysa Carol e Danna Lisboa, seus  depoimentos corajosos me fizeram observar muitas coisas, que talvez eu tenha esquecido, mas que é de suma importância para que  busquemos com todos os nossos processos criativos a tão almejada  visibilidade.

Danna Lisboa é uma artista que tem muita história para contar, forjada pelo boom do hip hop que tomou as ruas da capital  paulistana dos anos 80, a nossa querida Danna alcança o melhor  momento de sua carreira aos 36 anos, e nos revelou alguns detalhes  de sua relação com o hip hop:
-Minha adolescência foi influenciada por Hip Hop, mas em 2000 eu subi aos palcos  LGBTTQ trazendo essa influência através  de músicas, minhas primeiras composições  surgiram em 2004 daí para frente até tentei
me envolver na cena do rap, mas percebi  que nem as mulheres tinham visibilidade.  Então o ano passado consegui lançar meu  primeiro single Trinks. Existem muitos valores dentro desse  seguimento que precisam ser
desconstruídos. Explicou

E Danna Lisboa finaliza o seu relato com uma singela descrição do  surgimento da enigmática Danna Black:

-Em 2000 foi o nascimento de Danna Black  nas boates, me apresentava com esse nome. Fui drag danger 2003
Nessa época já tomava hormônios. Vivi entre 2000 até 2008 fazendo shows nas boates.

Para que os nossos leitores apreciem o bom Hip Hop, pois os  processos de visibilidade da arte trans devem começar por nós. Link do seu single :

Laysa Carol mostrou-se solicita e contributiva com os trabalhos da  equipe do TransAdvocate, uma simpatia contagiante e uma energia  demonstradas em palavras e falas bem articuladas, a menina de  Guarapuava, cidade do interior do Paraná, formou-se nos anos 90,  professora de Geografia, história e teatro pela universidade  Unicentro,

Laysa foi certamente uma das minhas gratas surpresas, em seu canal do Youtube, Laysa revela sua transição descrita por ela como tardia, quando “assumiu” a sua transexualidade aos 28  anos de idade, desbravou em vários processos entre a sua  mulheridade e adolescência típica de todos os jovens do interior do  Brasil, aquele enredo de machismo, religiosidade ortodoxa e a  experiência de ver travestis em sua própria cidade sendo tratadas  como sub-humanas, embora a emblemática Laysa, professora,  diretora, palestrante e escritora tenha me aguçado um forte  interesse ao ponto de conectar-me aos seus vídeos, essa  personalidade se desenhou de uma forma mais clara, hoje com 45  anos e erradicada em Curitiba, sua vida é baseada no amor, com a  família que construiu e com os amigos que a querem bem, no  começo do nosso bate-papo, eu a indaguei sobre a maior  dificuldade enfrentada por uma artista trans, num rompante Laysa  me respondeu:

-A maior dificuldade de um artista, atriz ou ator trans, é o simples fato de ser trans, as  portas se fecham.

Perguntada sobre o seu ativismo, foi enfática:
– Ser ativista ainda. Existe uma aversão  dos produtores, percebo que evitam  chamar ativistas para testes.

A narrativa da atriz prossegue bem harmoniosa e com muita  espirituosidade, ao contar sua trajetória de atriz que foi construída  com os inúmeros trabalhos que fez em Curitiba entre 2000 e 2016, Laysa nos explica que a própria arte é política, o não  posicionamento já é um posicionamento em si.

Laysa Carol também deixa a sua crítica para uma parcela da  comunidade LGBT que se contenta com as migalhas da indústria do entretenimento, sua observação foi pontual no tocante dos grandes autores usarem atrizes e atores trans em papéis figurantes,  enquanto pessoas Cis interpretam personagens trans em papéis de algum destaque, ela define todo esse processo como um grande  desserviço para a causa das pessoas trans. Sua crítica vai além, Laysa questiona a relevância de pessoas  trans que conseguiram espaço na mídia e possuem falas  singulares que só servem para alavancar as suas carreiras em  detrimento de todo um coletivo.

Caso queiram conhecer um pouquinho mais dessa artista talentosa  e muito versátil, acessem suas redes sociais e em especial o seu  vlog no youtube. Segue os links abaixo:

https://www.facebook.com/laysa.carol.1

Sharon Cardoso
Sharon Cardoso
Sharon Cardoso, 32 anos, reside em São Paulo, Formada em Recursos Humanos pela faculdade FATEF, estudou licenciatura em história na universidade Anhanguera. Escritora, desenhista, dubladora e fanática por doces rsrs. Sua escrita é voltada para literatura de ficção, embora tenha participado de projetos paralelos com outros autores, a obra que leva a sua assinatura e autoria é “O Divino Leviatã”

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